sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O Pastor e o Senhor, o uso do óleo* e a IPB? | Jader Borges

* Quando da ocasião da permissão para se ungir com óleo no último Supremo Concílio.oleo

Um pastor foi à frente da Igreja e derramou doze litros de óleo em sua cabeça para receber unção e repassar aos fiéis da Igreja, por extensão. Ficou todo besuntado e o piso da igreja alagado. Deu um trabalhão para limpar tudo aquilo, depois.

Em outro culto, um pastor derramou dois litros de óleo na cabeça e se sentiu cheio de poder (um litro para cada Testamento). Outro pastor enterrou uma garrafa de óleo em um monte perto de sua casa, para que o mesmo ficasse ‘cheio de poder’ e auxiliasse mais nas ‘orações nos montes’ à meia-noite, do tipo: “agora a coisa vai!”.
Garrafinhas de óleo de unção são vendidas em templos para atrair dinheiro para a obra. Livrarias evangélicas têm agora repartição de óleos para tudo quanto é jeito, cores e resultados...

Uma vez, estando eu em Macapá, capital do Amapá, por certa coincidência dessas da vida, procurando por uma livraria evangélica, deparei-me com uma feira de rua. Andei entre as barracas e a movimentação típica de gente, cores e sons, quando percebi que estava bem diante de uma banca recheada de produtos místicos, dessas tipo, “baianas do poder”. Não resisti e fui fazer uma pesquisa: “senhora, prá que serve este óleo aqui?” Ela respondeu. E este? E este? E este?.. Mas tinha tanto óleo... e para tudo! Perguntei se tinha um que fizesse ganhar na mega sena e ela disparou uma gargalhada: “Moço, se eu soubesse desse, o senhor acha que eu estaria aqui a essas horas? E emendou: “estaria era nas Bahamas!”
O “interessante” e até, “pior” foi que mais adiante encontrei a livraria evangélica. E vi de tudo ali, menos livros! Uma parede inteira lotada de cds e dvds de shows e, do outro lado, óleos para todos os tipos e cores. Fiz as mesmas perguntas que fiz à baiana ‘do poder’ e, para minha surpresa, obtive as mesmas respostas.

Óleo, poder e bens.

“Mas pastor, óleo não está na Bíblia”? Está. Claro que está. Mas, prudência também está na Bíblia. E coerência com toda a doutrina, também. Então, resta sabermos (e estudarmos muito bem!) como está na Bíblia: seu contexto cultural e também o seu uso. É um requisito doutrinário? Integra a doutrina da oração? Como toda a Bíblia trata de certas questões que, para tanto e rapidamente, alguns já vão besuntando tudo com óleo? Óleo faz parte do culto público? Devem os pastores andar com um vidrinho de óleo e assim que a pessoa pedir, é só... abastecer?

Eu não sou contra a Bíblia, contra a presença do óleo no texto de Tiago 5, contra a fé de ninguém. Sou e serei sempre contra o misticismo! E, convenhamos: a mente humana está impregnada de misticismo quando o assunto hoje é óleo, no meio evangélico. Até em igrejas ditas reformadas, tem sempre um ou outro que, ‘se brincar’ gostaria de dar uma ungidazinha na testa, e, aproveitando, no carro, na carteira...

Em tempos tão confusos como estes, em dias tão primos da conhecida ‘idade das trevas’, como os que vivemos, eu diria que antes do óleo em si ser aplicado, muito estudo - mas muito estudo mesmo - deveria ser feito. Muita compreensão da doutrina da Soberania divina deveria ser procurada, com paciência, para não cairmos em tentação, ou até tomarmos o barco confuso no mar agitado do emocionalismo e das sensações. Isso, sem nunca nos esquecermos das ciladas do diabo, que fará de tudo para desviar a nossa fé ou mesmo contaminá-la, ou pervertê-la. E se vir alguma vantagem, ele não pensará duas vezes em aproveitá-la sobre nós e, claro, contra nós.

Sim, a IPB “decidiu pelo óleo”, mas com restrições. Só em casa, só para enfermos e só a pedido do enfermo, bem como interpretou-se da carta de Tiago. Mas para isso, penso que não precisaria nem “ter decidido”. Já está na Bíblia! Foi mais um ato de restrição da nosa denominação contra os abusos dos nossos dias, penso que foi mais isso

Temo, contudo, que grande parte dos pastores ditos “presbiterianos” e que há muito abandonaram a nossa Confissão de Fé e as práticas reformadas das Escrituras acabem dando “um jeitinho brasileiro gospel” e agora, ‘jeitinho presbiteriano’ moderno, para ‘dar as suas ungidazinhas maneiras’ por aí. E olhem que não faltarão testas à disposição.

Eu nunca ungi ninguém com óleo, mas já acompanhei um pastor que o fez. Claro que entendi a decisão desse pastor em fazê-lo, atendendo um pedido de um moribundo. O que eu não sabia tanto, era sobre a vida do moribundo pedinte e que ele estava mais ‘apelando por uma cura’ - viesse de que fonte viesse, do que procurando conforto até para morrer em paz, pois, não muito tempo antes ou depois (não sei agora), ele mesmo havia pedido um trabalho para uma feiticeira paraguaia (e disso eu também não sabia) quando acompanhei aquele pastor.

Conto esta história aqui só para advertir como essa questão de “unção com óleo” tornou-se extremamente delicada em nossos dias (em tempo: a ação daquele pastor foi há muito tempo atrás, quando 'unção com óleo' não era esta moda que é hoje) e o perigo de patrocinarmos misticismos em nosso meio passou a ser mesmo alto, afinal, o entendimento da resolução do Supremo Concílio pode ser ‘qualquer um’ na mente de ‘qualquer um’ que só estava mesmo era esperando uma oportunidade que lhe servisse de pretexto para dar vazão às suas inclinações místicas, e ainda se sair com esta: “mas a IPB permitiu”.

Se um dia eu for solicitado ungir alguém enfermo com óleo, antes de fazê-lo e com muita prudência, cautela, temor e zelo que os dias de hoje exigem, perguntarei à pessoa primeiro por que ela está me solicitando aquilo. Perguntarei, com muito respeito à pessoa, o que ela entende daquele gesto? E se eu perceber que há algo de misticismo ou de uma compreensão moderna deformada, deturpada e até perigosa do texto de Tiago 5 procurarei orientar a pessoa sobre a doutrina da soberania de Deus, da oração e até mesmo de nos prepararmos para enfrentar a enfermidade e até a própria morte, pois tudo isso faz parte da vida e das nossas lutas aqui, enquanto peregrinamos. Com muito cuidado, mas farei isso. E não farei a 'unção'.

  • E o que farei mais?
  • Estudarei mais e procurarei empenhar-me mais nisto.
  • Procurarei orientar mais o meu rebanho quanto às maravilhosas doutrinas da Graça.

Recentemente a nossa igreja passou por uma experiência marcante. De repente todos fomos tomados de espanto – e ficamos paralisados - diante da informação de que uma jovem senhora, esposa e mãe, estava com um tumor no cérebro, localizado em condições praticamente impossíveis de ser retirado e que já poderia tê-la matado inclusive, antes mesmo de ser descoberto. O que fizemos? Oramos ao Deus Todo-Poderoso e ela submeteu-se à cirurgia que durou 12 horas. Paula estava bem consciente da gravidade da sua enfermidade, mas também estava bem consciente da sua fé em Jesus Cristo, tanto é que estava até preparada para partir e estar com o Senhor, tendo escrito até uma carta para ser lida em seu funeral, caso ocorresse. Deixou isto bem claro – a sua confiança em seu Salvador - fosse qual fosse o resultado da cirurgia, diante da igreja para a qual falou antes de seguir para a sala de cirurgia. E todos ali oramos, choramos e sentimos.

Momentos antes da cirurgia, orei com o casal. Um casal novo na fé, até.

  • Em nenhum momento falamos sobre “óleo” ou “unção”.
  • Em nenhum momento ela pediu isto e eu, sequer lembrei-me ou recorri a isto.
  • Mas recorremos à oração e a todas as lembranças das ricas promessas de Deus.

Ela foi para a cirurgia.
Ela retornou da cirurgia.
Ela está muito bem agora, graças a Deus.

E nós seguimos orando ao Senhor.
Fizemos isto juntos, não faz ainda nem três dias.

Por Rev. Jader Borges – Via Facebook (Emfase Minha).

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